RESPONDENDO
AS QUESTÕES: “CURSO DE LETRAS? PRA QUÊ?” (BAGNO)
Miguél Eugenio
Almeida (UEMS/ UCG)
A partir desse artigo “Curso de Letras? Pra quê?” do
professor Marco Bagno, pontuamos três questões que norteiam a reflexão sobre a
graduação em Letras: 1. Há sentido trocar “Letras”, do Curso de Letras? 2. O
que determina a política de língua? 3. O que se entende por tradição
gramatical?
Assim, procuramos refletir sobre a base da aquisição do
conhecimento da língua portuguesa, propriamente dita. O conhecimento em geral
está vinculado com a tradição histórica e cultural de um povo. O passado lega
para o presente e este para o futuro tudo aquilo que o povo transmite, quer
pela oralidade, quer pela escrita. Neste contexto, a língua constitui-se no
maior legado cultural da humanidade. A guisa de exemplificação, tomamos a
palavra letras, quando alguém usa no momento presente: as letras da
música do cantor são inteligentes; ela cursa Letras. Nestes
exemplos, verificamos uma aproximação semântica relacionada com as ocorrências
da língua. A palavra letras (= texto), no caso, compreende duas
dimensões que se completam: uma dimensão interna e uma externa. A dimensão
interna trata principalmente das transformações fonéticas; a dimensão externa
compreende o contexto histórico e geográfico do uso desta forma relacionada com
alguma orientação de uma gramática, notoriamente. A seguir, verificamos a
formação deste signo pela Filologia:
letra sf. 'cada um dos caracteres do
abecedário’ ‘sentido claramente expresso pela escrita’ ‘os versos das canções’
‘carta’ I XIII, letera XIII etc. I Do lat. lĭtĕra.(CUNHA, 1982,
p.471b)[1].
séc.
XIII, CSM, 265.70
[...] ssa letera estremar adur / poderia ome da sua [...].
(Id.,2006, CD-ROM)[2].
Dessa
forma, a palavra letras passa a denominar, no momento atual, o conjunto
de texto em prosa e em poesia, consolidado historicamente pelo uso dos falantes
da língua. Esse uso é freqüente e também abarca uma população bastante
expressiva de falantes, o que não podemos negar.
Para que possamos compreender a
relação do uso da forma com a política de língua, depreendemos o seguinte: há
um poder político determinado pelo poder econômico governando as relações
humanas, por intermédio dos meios de produção (forças produtivas e relações produtivas).
A língua naturalmente compreende o mais importante elemento das relações
produtivas que formam as ideologias ou instituições religiosas,
filosóficas, jurídicas, éticas, políticas, artísticas e linguísticas,
notoriamente.
Portanto, a política de língua é
determinada pelo modelo econômico dominante vigente em um determinado contexto
histórico, social e cultural de um povo.
Destarte, a classe dominante, que está
no poder político, é a que, em uma certa medida, institui a língua de
prestígio. É o uso desta língua que oficializa os documentos da
administração pública e privada de uma Nação, principalmente; e nas demais
instituições sociais e culturais.
A terceira pergunta diz respeito à
“tradição gramatical” vinculada principalmente com a segunda questão – política
de língua -. Neste caso, a história da formação da língua portuguesa e a sua
evolução, para serem conhecidas, exigem o estudo primordial do latim e da
filologia portuguesa, quer sob o aspecto interno, quer sob o aspecto externo.
Para tanto, na prática, propomos um
currículo-base de Letras contemplando, de maneira equilibrada, esses aspectos –
interno e externo – , ora sob a abrangência diacrônica, ora sob a abrangência
sincrônica; independendo das formas de abordagem filológica, lingüística e
literária.
O domínio do idioma português
prescinde o domínio das regras de uso pelo aprendizado sistemático e prático da
expressão oral e escrita. No caso, o aprendizado da regra está correlacionado
com o exercício do uso desta regra. À medida que relacionamos a regra com o seu
uso, tomamos posse do domínio da língua utilizando-a na comunicação consciente
dessas formas com os demais sujeitos falantes da língua em questão.
A língua portuguesa de prestígio
tem o papel primordial de inclusão social, quando insere o sujeito falante para
o contato com toda a produção cultural das instituições sociais de uma
sociedade organizada. Assim, é pertinente não perdermos de vista o uso padrão
da língua, para que possamos usufruir desse grande acervo bibliográfico,
notoriamente; e, ainda, instrumentalizarmos para ocuparmos papel social e
político na sociedade, em geral.
Mundo, mundo, vasto mundo,
ResponderExcluirSe o curso de Letras se chamasse Raimundo,
Seria uma rima,
Não seria uma solução.