sexta-feira, 11 de abril de 2014

CALENDÁRIO DAS REUNIÕES DO GRUPO DE PESQUISA 
LITERATURA, HISTÓRIA E SOCIEDADE



1º Encontro 11/04 -  
Abertura dos trabalhos do projeto – orientações (frequência, metodologia, conteúdo e avaliação).

2º Encontro 25/04– Coordenação: Profº Daniel Abrão.
Texto: As origens da pós-modernidade. Perry Anderson

2º Encontro 09/05– Coordenação:Ana Arguelho
Texto: A modernidade do romance. João Alexandre Barbosa.

3º Encontro 23/05–Coordenação:Eliane Giacon
Texto: A questão da teoria da recepção na produção literária atual. Lilian Fontes Moreira

4º Encontro 06/06– Coordenação: FábioDobashi
Texto: Consideração intempestiva sobre o ensino de literatura. Leila Perrone-Moisés

5º Encontro 20/06– Coordenação: Julio XavierGalharte
Texto:O leitor-modelo. Umberto Eco

6º Encontro 01/08– Coordenação: Daniel Abrão
Texto: Altas Literatura. Leila Perrone-Moisés

7º Encontro 15/08– Coordenação:Ana Arguelho
Texto: Reflexões sobre o moderno romance brasileiro. Benedito Nunes.

8º Encontro 29/08 – Coordenação: Eliane Giacon
Texto: Alguns aspectos do conto

9º Encontro – 12/09 – Coordenação: Fábio Dobashi
Texto: Três mestres do conto. Raimundo Magalhães Junior

10º Encontro 26/09– Coordenação: Julio Xavier Galharte
Texto: Narrativa e resistência. Alfredo Bosi

03/10 
Reunião de encerramento e avaliação do projeto


sábado, 30 de março de 2013

A rebelião voltou


A rebelião voltou
Como compreender a greve dos estudantes da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) em Campo Grande? Não é fácil entender um movimento social no calor dos acontecimentos e do qual sou apoiador e, na medida do possível, participante. Não existe ainda o necessário distanciamento histórico e isenção de ânimos para uma análise racional e criteriosa que permita avançar na compreensão do movimento grevista. Porém (e sempre tem um porém), entendo ser fundamental uma análise de conjuntura que possibilite iluminar a questão. Afinal, os professores da UEMS são chamados a uma tomada de posição. Trata-se de ser a favor ou contra o movimento dos alunos, a greve está nas ruas, não é possível um meio-termo.
Eis aqui a minha primeira aproximação de análise.  Espero que o texto disperte reflexões e outras análises a favor ou contra o movimento. O debate está aberto. Em primeiro lugar, entendo que a análise de conjuntura não pode ficar restrita aos acontecimentos relativos exclusivamente à cidade de Campo Grande, isto é, quais os impactos dos resultados da última eleição municipal. Para mim, a greve estudantil, colocada na categoria, de movimento social, possui raízes bem mais profundas.
É certo que estamos num cantinho do mundo, o Mato Grosso do Sul, mas com a globalização e o apoio das novas tecnologias estamos cada vez mais conectados com o mundo. Os ventos da mudança que sopram lá também repercutem aqui.  Coloco de imediato a seguinte constatação: a rebelião popular voltou à ordem do dia. Após um longo período de hibernação, ela voltou. Seja muito bem-vinda. É preciso entender, participar e politizar as novas formas de movimento social que brotam como cogumelos depois de uma noite de chuva. Entendemos os movimentos participando e ao participar o compreendemos cada vez mais. Não é uma tarefa fácil, como já disse. Em momentos de encruzilhada teórica, da escolha de caminhos a seguir, recorro ao velho barbudo, amado por uns e odiado por outros, o que diria Karl Marx em relação à possibilidade de análise de um fenômeno no qual você é, ao mesmo tempo, espectador e ator, tudo, no calor dos acontecimentos, saindo e entrando de reuniões e assembléias. Na Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (Introdução), Marx diz que a análise crítica não é paixão da cabeça, mas a cabeça da paixão. Portanto, no meu entender, não se trata de descartar a paixão, acredito que a paixão é necessária em todas as ações humanas, a questão é subordiná-la a cabeça, a análise racional.
O pano de fundo objetivo das rebeliões ao redor do mundo é o agravamento da crise social e a ausência de alternativas políticas organizadas. Segundo, István Mészáros, o capitalismo vive uma crise estrutural e entrou em sua fase final de decadência, ou seja, não conheceremos mais longos períodos de crescimento econômico. Em 2008, o mundo conheceu o significado da crise, e três anos depois, em 2011, ocorreram diversos movimentos sociais de protesto com reivindicações peculiares em cada região, mas com formas de luta semelhantes. Aos interessados no tema indico o livro Occupy: movimentos de protesto que tomaram as ruas. São Paulo: Boitempo, 2012. No início de 2011, aconteceu a chamada Primavera Árabe quando milhares de pessoas foram às ruas pelo fim das ditaduras em países da África do Norte (Tunísia, Egito, Líbia e Iêmen). O movimento assumiu o caráter de revolução democrática. Em 20111, as ruas das principais cidades da Espanha foram tomadas pelo Movimento dos Indignados contra o desemprego, a desiguladade social e a falta de perspectivas aos jovens. Em Portugal, o movimento ficou conhecido como Geração à Rasca, e na Grécia, tivemos a ocupação da praça Syntagma. Detalhe: todos esses movimentos foram promovidos e coordenados por jovens, em sua maioria, entre 18 a 25 anos. Ainda em 2011, no Chile, cerca de quatrocentos mil estudantes foi às ruas reivindicar educação pública e gratuita. O movimento colocou uma pá de cal no ideário de privatização das políticas neoliberais, justamente no berço da primeira experiência de governo neoliberal do mundo. O mais importante movimento, ocorreu no coração do capitalismo com o Occupy Wall Stret em New York. Estima-se que aproximadamente quinze mil pessoas participaram da ocupação com um público bem diversificado composto por hippies, punks anarquistas, desempregados, veteranos de guerra, estudantes, pobres, sindicalistas, juventude desencantada etc.
As formas de organização e ação desses movimentos sociais são semelhantes as estratégias utilizadas pelos estudantes da Unidade Universitária de Campo Grande, salvaguardadas as proporções quantitativas e o alcance das exigências reivindicatórias do nosso cantinho do mundo. Os movimentos recusam as articulações políticas do espaço institucional tradicional. O movimento grevista dos alunos não possui nenhuma vinculação político partidária e nem sindical. Assistam a reunião que os alunos fizeram com o reitor da UEMS no escritório em Campo Grande, disponível no You tube. Os movimentos são pacíficos e recusam a adoção de táticas violentas e ilegais, evitando, assim, a criminalização. Vi alunos da UEMS distribuindo velhos crisântemos. Os movimentos não possuem uma liderança única e centralizadora. Quanta diferença da minha época de movimento estudantil quando as lideranças faziam acordos na calada da noite. E, por fim, os movimentos sociais utilizam as redes sociais, Facebook e Twiter, como forma de comunicação e organização. Todas as informações, entrevistas, vídeos de passeatas e manifestações estão disponíveis no Facebook movimentoacademicodauems.
É necessário apontar também uma grande diferença entre os diversos movimentos sociais citados e o movimento grevista da UEMS. Eles foram compostos por milhares, milhões de pessoas, nós, ainda, somos tímidas centenas. Convido os leitores a conhecerem e, quiçá, participarem do movimento. Dirijo-me, em especial, aos camaradas (redatores do Jornal O Marginal) que sempre estiveram a favor dos movimentos sociais e das lutas dos trabalhadores para que venham somar conosco. Aos outros, nossos colegas de trabalham, que possuem outra maneira de analisar a questão - sempre há os que pensam diferentes -, deixo todo o meu carinho e respeito. Mas, por favor, não maculem a história. Ouvi uma pessoa falar numa assembléia que a greve nunca trouxe nada de bom. Certamente não trouxe nada de bom para os capitalistas, mas os direitos trabalhistas foram frutos das lutas dos trabalhadores. Durante a Primeira revolução Industrial, as jornadas de trabalho chegaram a 12, 13, 16 horas diárias; pensem nas greves do ABC paulista no final dos anos 70 e a sua contribuição ao processo de redemocratização do país. Os livros estão disponíveis, não vou me alongar em exemplos.
Acredito, sinceramente, que em termos de organização e mobilização os professores têm muito o que aprender com os alunos. Como diz
Brecht na peça A vida de Galileu:
“Vi o que é raro se ver
Um professor que quer aprender”.
Não é um despropósito pedir para que cessem as piruetas retóricas, ou análises de conjuntura restritivas, na tentativa de defender o indefensável. Se a causa é justa, democrática e pacífica merece o nosso apoio. Abram seus olhos para o que está acontecendo no mundo e na Unidade de Campo Grande. Deixe o clamor das ruas entrarem pelos ouvidos, passarem pelo coração e chegarem à cabeça, a cabeça da paixão.

Professor Paulo Edyr Bueno de Camargo
Unidade Universitária de Campo Grande

domingo, 24 de março de 2013

NOTÍCIAS DAS MANIFESTAÇÕES DOS ALUNOS DA UEMS

Operário em Educação

Prezados (as), 
abaixo poema escrito pelo nosso aluno Gabriel de Melo Lima Leal



Operário em Educação 

Era ele que tinha aulas 
Onde só havia chão 
Como um pássaro sem asas 
Estudava em uma sala 
Que era nada de antemão 
Mal a sua turma cabia 
Mal a sua turma sabia 
De sua grande missão 
Não sabiam por exemplo 
Que a sala de aula é um templo 
Um templo sem religião 
Como também não notavam 
Que o dar o jeito que davam 
Que o jogo de cintura 
Ante a falta de estrutura 
Sendo sua liberdade 
Era sua escravidão. 

De fato como podia 
Um operário em educação 
Compreender que um livro 
Valia mais do que um pão? 
Os livros ele folhava 
Página a página lia 
Quanto ao pão, ele o comia 
Mas se fosse comer papel! 
E assim o operário ia 
Em frente, a cabeça prenha, 
Fazendo aqui uma prova 
Adiante uma resenha 

Mas ele desconhecia 
Um fato extraordinário 
Que o operário faz a coisa 
E a coisa faz o operário 
Por mais que um operário leia 
A educação que semeia 
Faz sua própria educação 
E certo dia estudando 
O operário trabalhando 
Foi tomado de emoção 
Que tudo que transcorria 
Na sua graduação 
De certa forma refletia 
O que ele mesmo viveria 
Quando estivesse formado 
Quando do outro lado 
Fosse formar operários 
Operários da educação 

Viu que a escassez que sofria 
A escola, sua instalação 
Principalmente atingia 
O alicerce não da escola 
Mas da sua formação 
Viu então que os professores 
Ou o resto da cidade 
Não podiam tomar suas dores. 
Que de sua realidade 
Devia ele mesmo cuidar 
Que a precariedade que há 
Só seria resolvida 
Se dedicasse sua vida 
Sua humilde vida a 
Operar pela educação. 
Como podia querer 
Que gente que não passava 
Que gente que não estava 
Dentro da escola a sofrer 
Lutasse por sua causa 
De uma melhor condição 
De ensino que fazia falta 
No construir dele mesmo 
Um operário em educação? 

E uma nova coisa se via 
Que um estudante pensava 
E nos outros refletia 
E no coração da escola 
Diante da ideia da esmola 
Que era só o que recebia 
Escreveu-se a ferro e fogo 
A raiva perante o engodo 
 - Que o governo promovia - 
Dentro em cada coração 

E os estudantes cresceram 
As gargantas dilataram 
E as vozes que apresentavam 
Trabalhos para os colegas 
Rasgaram todas as pregas 
Das línguas que estudavam 
E assim o operário 
Da escola em formação 
Que dizia “tudo bem” 
Começou a dizer “não”. 

Aprendeu que cada coisa 
Cada uma pequena falha 
Trazia junto a questão 
Muito maior e que estava 
Na sua própria inação 
Que se o governo tirava, 
Era ele que não lutava 
Pela restituição. 
Pra que fosse dado respeito, 
Até então não abrira o peito 
Até então estava indefesa 
A todo ataque, a educação. 

Viu que o “ok” que acenava 
Era em verdade um perdão 
Que a biblioteca fechada 
Era o whisky do capitão 
Que o reclamar sem agir 
Era voto ao capitão... 

E o operário disse: Não! 
E o operário fez-se forte 
Na sua resolução 

Foi pra rua proclamar 
A sua indignação 
E como era de se esperar 
Na sua manifestação 
O operário foi cercado 
Por capangas do capitão 
Teve seu couro cortado 
Teve seu rosto cuspido 
Mas quando foi perguntado 
O operário disse: Não! 

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras seguiram
Muitas outras seguirão
Todos enxergam agora
 
Que o estado que devia 
Sustentar a educação 
É na verdade inimigo 
E que tem por interesse 
Só a sua exploração. 
E à ideia em crescimento 
Foi-se juntando o cimento 
Da politização 
De saber que um direito 
Nunca é consolidado 
Não vai do papel à ação 
Gratuitamente e que apenas 
Lutando pelos problemas 
E com muita reivindicação 
O direito é exercido. 
Que mesmo um round perdido 
Nunca é em vão 
Desde que a ideia só cresça 
Desde que aumentem os números 
De operários com cabeça, 
Operários que dizem “Não”. 

Vendo que a o violência 
Não dobrara o operário 
Tentou um dia o capitão 
Dobrá-lo de modo contrário 
E chamando o operário 
Fez-lhe esta declaração: 

- Dar-te-ei tudo que pedes 
Mas só à tua formação 
Não a de teus colegas 
E somente se deixares 
O que te faz dizer não. 

Mas o que o operário via 
Não via o capitão 
Que atrás da economia 
A empurrava a sua mão 
Que nada daquilo haveria 
- Nem mesmo o poder de 
Que abusava o capitão – 
Se não fosse a sua labuta 
O seu suor na educação 
Que a maior força surgia, 
Um força sem comparação, 
Dele mesmo, do operário 
Com seus pares em união. 
E a voz do operário 
Tomou corpo e disse: Não! 

E aquele operário 
Operário em educação 
Pela batalha travada 
Politicamente em sua alma 
Fez-se em fim levantada 
A sua própria construção, 
Tomou-se então ampliado 
De uma amplitude que não 
Se forma apenas nas aulas   
Agregou a consciência 
De luta à sua formação 
Tornando enfim em educado 
O operário em educação. 


Gabriel de Melo Lima Leal