domingo, 24 de março de 2013

Operário em Educação

Prezados (as), 
abaixo poema escrito pelo nosso aluno Gabriel de Melo Lima Leal



Operário em Educação 

Era ele que tinha aulas 
Onde só havia chão 
Como um pássaro sem asas 
Estudava em uma sala 
Que era nada de antemão 
Mal a sua turma cabia 
Mal a sua turma sabia 
De sua grande missão 
Não sabiam por exemplo 
Que a sala de aula é um templo 
Um templo sem religião 
Como também não notavam 
Que o dar o jeito que davam 
Que o jogo de cintura 
Ante a falta de estrutura 
Sendo sua liberdade 
Era sua escravidão. 

De fato como podia 
Um operário em educação 
Compreender que um livro 
Valia mais do que um pão? 
Os livros ele folhava 
Página a página lia 
Quanto ao pão, ele o comia 
Mas se fosse comer papel! 
E assim o operário ia 
Em frente, a cabeça prenha, 
Fazendo aqui uma prova 
Adiante uma resenha 

Mas ele desconhecia 
Um fato extraordinário 
Que o operário faz a coisa 
E a coisa faz o operário 
Por mais que um operário leia 
A educação que semeia 
Faz sua própria educação 
E certo dia estudando 
O operário trabalhando 
Foi tomado de emoção 
Que tudo que transcorria 
Na sua graduação 
De certa forma refletia 
O que ele mesmo viveria 
Quando estivesse formado 
Quando do outro lado 
Fosse formar operários 
Operários da educação 

Viu que a escassez que sofria 
A escola, sua instalação 
Principalmente atingia 
O alicerce não da escola 
Mas da sua formação 
Viu então que os professores 
Ou o resto da cidade 
Não podiam tomar suas dores. 
Que de sua realidade 
Devia ele mesmo cuidar 
Que a precariedade que há 
Só seria resolvida 
Se dedicasse sua vida 
Sua humilde vida a 
Operar pela educação. 
Como podia querer 
Que gente que não passava 
Que gente que não estava 
Dentro da escola a sofrer 
Lutasse por sua causa 
De uma melhor condição 
De ensino que fazia falta 
No construir dele mesmo 
Um operário em educação? 

E uma nova coisa se via 
Que um estudante pensava 
E nos outros refletia 
E no coração da escola 
Diante da ideia da esmola 
Que era só o que recebia 
Escreveu-se a ferro e fogo 
A raiva perante o engodo 
 - Que o governo promovia - 
Dentro em cada coração 

E os estudantes cresceram 
As gargantas dilataram 
E as vozes que apresentavam 
Trabalhos para os colegas 
Rasgaram todas as pregas 
Das línguas que estudavam 
E assim o operário 
Da escola em formação 
Que dizia “tudo bem” 
Começou a dizer “não”. 

Aprendeu que cada coisa 
Cada uma pequena falha 
Trazia junto a questão 
Muito maior e que estava 
Na sua própria inação 
Que se o governo tirava, 
Era ele que não lutava 
Pela restituição. 
Pra que fosse dado respeito, 
Até então não abrira o peito 
Até então estava indefesa 
A todo ataque, a educação. 

Viu que o “ok” que acenava 
Era em verdade um perdão 
Que a biblioteca fechada 
Era o whisky do capitão 
Que o reclamar sem agir 
Era voto ao capitão... 

E o operário disse: Não! 
E o operário fez-se forte 
Na sua resolução 

Foi pra rua proclamar 
A sua indignação 
E como era de se esperar 
Na sua manifestação 
O operário foi cercado 
Por capangas do capitão 
Teve seu couro cortado 
Teve seu rosto cuspido 
Mas quando foi perguntado 
O operário disse: Não! 

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras seguiram
Muitas outras seguirão
Todos enxergam agora
 
Que o estado que devia 
Sustentar a educação 
É na verdade inimigo 
E que tem por interesse 
Só a sua exploração. 
E à ideia em crescimento 
Foi-se juntando o cimento 
Da politização 
De saber que um direito 
Nunca é consolidado 
Não vai do papel à ação 
Gratuitamente e que apenas 
Lutando pelos problemas 
E com muita reivindicação 
O direito é exercido. 
Que mesmo um round perdido 
Nunca é em vão 
Desde que a ideia só cresça 
Desde que aumentem os números 
De operários com cabeça, 
Operários que dizem “Não”. 

Vendo que a o violência 
Não dobrara o operário 
Tentou um dia o capitão 
Dobrá-lo de modo contrário 
E chamando o operário 
Fez-lhe esta declaração: 

- Dar-te-ei tudo que pedes 
Mas só à tua formação 
Não a de teus colegas 
E somente se deixares 
O que te faz dizer não. 

Mas o que o operário via 
Não via o capitão 
Que atrás da economia 
A empurrava a sua mão 
Que nada daquilo haveria 
- Nem mesmo o poder de 
Que abusava o capitão – 
Se não fosse a sua labuta 
O seu suor na educação 
Que a maior força surgia, 
Um força sem comparação, 
Dele mesmo, do operário 
Com seus pares em união. 
E a voz do operário 
Tomou corpo e disse: Não! 

E aquele operário 
Operário em educação 
Pela batalha travada 
Politicamente em sua alma 
Fez-se em fim levantada 
A sua própria construção, 
Tomou-se então ampliado 
De uma amplitude que não 
Se forma apenas nas aulas   
Agregou a consciência 
De luta à sua formação 
Tornando enfim em educado 
O operário em educação. 


Gabriel de Melo Lima Leal

Nenhum comentário:

Postar um comentário