quinta-feira, 14 de março de 2013

RESPONDENDO AS QUESTÕES: “CURSO DE LETRAS? PRA QUÊ?”(BAGNO)


RESPONDENDO AS QUESTÕES: “CURSO DE LETRAS? PRA QUÊ?” (BAGNO)

Miguél Eugenio Almeida (UEMS/ UCG)

            A partir desse artigo “Curso de Letras? Pra quê?” do professor Marco Bagno, pontuamos três questões que norteiam a reflexão sobre a graduação em Letras: 1. Há sentido trocar “Letras”, do Curso de Letras? 2. O que determina a política de língua? 3. O que se entende por tradição gramatical?
            Assim, procuramos refletir sobre a base da aquisição do conhecimento da língua portuguesa, propriamente dita. O conhecimento em geral está vinculado com a tradição histórica e cultural de um povo. O passado lega para o presente e este para o futuro tudo aquilo que o povo transmite, quer pela oralidade, quer pela escrita. Neste contexto, a língua constitui-se no maior legado cultural da humanidade. A guisa de exemplificação, tomamos a palavra letras, quando alguém usa no momento presente: as letras da música do cantor são inteligentes; ela cursa Letras. Nestes exemplos, verificamos uma aproximação semântica relacionada com as ocorrências da língua. A palavra letras (= texto), no caso, compreende duas dimensões que se completam: uma dimensão interna e uma externa. A dimensão interna trata principalmente das transformações fonéticas; a dimensão externa compreende o contexto histórico e geográfico do uso desta forma relacionada com alguma orientação de uma gramática, notoriamente. A seguir, verificamos a formação deste signo pela Filologia:

letra sf. 'cada um dos caracteres do abecedário’ ‘sentido claramente expresso pela escrita’ ‘os versos das canções’ ‘carta’ I XIII, letera XIII etc. I Do lat. lĭtĕra.(CUNHA, 1982, p.471b)[1].
                                            séc. XIII, CSM, 265.70
[...] ssa letera estremar adur / poderia ome da sua [...]. (Id.,2006, CD-ROM)[2].


Dessa forma, a palavra letras passa a denominar, no momento atual, o conjunto de texto em prosa e em poesia, consolidado historicamente pelo uso dos falantes da língua. Esse uso é freqüente e também abarca uma população bastante expressiva de falantes, o que não podemos negar.
          Para que possamos compreender a relação do uso da forma com a política de língua, depreendemos o seguinte: há um poder político determinado pelo poder econômico governando as relações humanas, por intermédio dos meios de produção (forças produtivas e relações produtivas). A língua naturalmente compreende o mais importante elemento das relações produtivas que formam as ideologias ou instituições religiosas, filosóficas, jurídicas, éticas, políticas, artísticas e linguísticas, notoriamente.
          Portanto, a política de língua é determinada pelo modelo econômico dominante vigente em um determinado contexto histórico, social e cultural de um povo.
          Destarte, a classe dominante, que está no poder político, é a que, em uma certa medida, institui a língua de prestígio. É o uso desta língua que oficializa os documentos da administração pública e privada de uma Nação, principalmente; e nas demais instituições sociais e culturais.
          A terceira pergunta diz respeito à “tradição gramatical” vinculada principalmente com a segunda questão – política de língua -. Neste caso, a história da formação da língua portuguesa e a sua evolução, para serem conhecidas, exigem o estudo primordial do latim e da filologia portuguesa, quer sob o aspecto interno, quer sob o aspecto externo.
          Para tanto, na prática, propomos um currículo-base de Letras contemplando, de maneira equilibrada, esses aspectos – interno e externo – , ora sob a abrangência diacrônica, ora sob a abrangência sincrônica; independendo das formas de abordagem filológica, lingüística e literária.
          O domínio do idioma português prescinde o domínio das regras de uso pelo aprendizado sistemático e prático da expressão oral e escrita. No caso, o aprendizado da regra está correlacionado com o exercício do uso desta regra. À medida que relacionamos a regra com o seu uso, tomamos posse do domínio da língua utilizando-a na comunicação consciente dessas formas com os demais sujeitos falantes da língua em questão.
          A língua portuguesa de prestígio tem o papel primordial de inclusão social, quando insere o sujeito falante para o contato com toda a produção cultural das instituições sociais de uma sociedade organizada. Assim, é pertinente não perdermos de vista o uso padrão da língua, para que possamos usufruir desse grande acervo bibliográfico, notoriamente; e, ainda, instrumentalizarmos para ocuparmos papel social e político na sociedade, em geral.


[1] Cf. CUNHA, A. G. Dicionário etimológico Nova Fronteira da língua portuguesa. Rio de Janeiro: 1982.
[2] Cf. Idem. Vocabulário Histórico-Cronológico do Português Medieval. Rio de Janeiro: Fundação Casa Rui Barbosa, CD-ROM, 2006.

Um comentário:

  1. Mundo, mundo, vasto mundo,
    Se o curso de Letras se chamasse Raimundo,
    Seria uma rima,
    Não seria uma solução.

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